“Andava de charrete, andava a cavalo. Mas de aligátor foi a primeira vez”. Abraham Lincoln.
Andava de burro pelas calçadas de Ipanema enquanto fumava um charuto benfiquista feito por Dom Pedro II. Estava dentro de uma cabine com cortinas de couro e vidraças fumê. Fazia 40 graus naquele dia e estava suando mais que o burro que me carregava.
- Não tem um transporte que eu soe menos? – questionou Figueiredo Alcântara Filho II, um aristocrata culto, de bigode maciço e olheiras de dar inveja, e que estava ali passeando com sua esposa e filha numa aventura de verão no Rio de Janeiro.
Naquela época rolava tráfico de charutos, guerra de cuspe no bonde de Ipanema e traições com meretrizes de capricórnio com ascendente em aquário. Foram bons tempos até a milícia chegar e começar a vender cosméticos no Leblon.
Figueiredo estava farto de se locomover por locomotivas a vapor;
Sua filha odiava cavalgar num pônei voador sem freio e sem direção;
Sua esposa tinha síndrome do pânico toda vez que passeava de mamute pela Índia;
Seu pai, o senhor Alfredo, sofria de flatulência crônica toda vez que pegava a estrada no seu Peugeot Tipo 4.
Estava na hora de um novo transporte. Algo arrojado, atraente, com ventilação, sem esporão, com pouca bagagem, algo clean e démodé, que pudesse atrair jovens empreendedores ou donas de casas com bobes na cabeça... Um transporte que não usa milhas nem quilates, que não se troca pastilha de freio, que não voa e nem transpira, que não enferruja e nem sapateia. Algo translúcido, sarcástico e revigorante...
Foi aí que vi minha filha montada num aligátor, ou jacaré para os plebeus da zona leste.
Era bonito, de couro, dentes tirânicos, calda robusta de dois metros e olhos da era do gelo.
Minha filha naquele dia ganhou o respeito de toda a cidade. Ela estava empoderada e todos a cumprimentava como se fosse a dona do pedaço. A partir daquele momento nascera uma rainha, se tornando anos depois a primeira monarca da casa de Windsor.
Na adolescência ela andava com dois aligátores, um em cada perna. Foi assim que ela invadiu a Inglaterra e mandou fazer um bolo de laranja. E depois mandou construir um castelo só para invadi-lo.
Na juventude ela fez aquele filme Crocodilo Dundee. Sim, ela tinha dois aligátores, cinco jacarés e um crocodilo australiano que proporcionaram juntos três longas-metragens e um Oscar.
Na fase adulta ela oficializou seu reinado se tornando a rainha do Reino Unido. Depois disso ela comprou um cachorro, deu para o aligátor comer no jantar, bebeu uísque duplo e mandou fazer o hino da Inglaterra em seu nome.
Segue abaixo o hino da Inglaterra traduzido do grão-bretão:
God Save the Queen
Deus salve nossa bondosa Rainha,
Longa vida à nossa nobre Rainha,
Deus salve a Rainha,
Que a faça vitoriosa, montada nos seus aligátores possantes,
Feliz e gloriosa empinando crocodilos no Palácio de Buckingham,
Que dance hip-hop e humilhe a todos nós,
Deus salve a Rainha,
Majestosa derrapando um jacaré à meia noite,
Ó Senhor, a Rainha vem e dispensa seus inimigos,
Quem anda de aligátor não teme a morte,
Ela confunde sua política com lagartos,
Ela frustra seus truques fraudulentos,
Em ti depositamos nossa esperança,
Vá Rainha e voe montada num aligátor!
“Deus salve a Rainha”.
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